Parece
que a empatia que temos com os lugares que visitamos tem um pouco a
ver com o meio onde nós fomos criados. Respondendo a uma entrevista
do meu filho para a escola, ele me perguntou do que eu sentia falta
da minha terra natal. Vieram-me à mente as montanhas.
As
montanhas tem algo mágico, que talvez nos remetam a sentimentos
ancestrais. Em visita ao Peru, soube que os espanhóis tiveram muita
dificuldade em catequizar os incas, porque eles adoravam, entre
outras coisas, as montanhas. Algum sucesso de inculcar o cristianismo
entre os incas só foi alcançado quando começaram a apresentar
imagens das santas com os mantos em forma dos cumes das montanhas a que estavam
habituados.
O
encantamento pelas terras altas começa a surgir quando nos alçamos
a qualquer altitude que nos permite ver um pouco mais além do que
nosso horizonte habitual. Deslumbramo-nos com a ampliação de
domínios das nossas visões, com a temperatura do ar que respiramos
e até mesmo com a escassez de ar em algumas situações.
Intrigas-nos as matas fechadas que remanescem no alto das
serras, o gelo que se acumula naquelas mais altas ainda e as nuvens
que nos impedem de ver até onde vão em certos momentos.
O
auge do meu encantamento pelas montanhas se deu numa estada no Chile, quando fui apresentar a neve às crianças. Tomados
pela excitação das brincadeiras, terminamos por ficar na
Cordilheira além do horário mais prudente para quem deveria
enfrentar todas aquelas curvas na estrada abaixo.
Nesse
momento, fomos surpreendidos pela beleza de algo que ainda não tinha
me ocorrido: ver o pôr do sol lá de cima da Cordilheira.