terça-feira, 15 de novembro de 2022

Entre Umas e Outras

Mendoza, na Argentina, é um lugar para se estar e para se ausentar. 

A cidade de Mendoza, localizada a 1.050 km a oeste de Buenos Aires, jaz numa extensa planície desértica aos pés da Cordilheita dos Andes. Apesar do clima quente e árido, caminhar pela cidade é fácil e agradável, pois as ruas retas e largas tem calçadas sombreadas por uma infinidade de Plátanos, cultivados ao lado de grandes canaletas, que fazem a irrigação com a água do degelo da cordilheira.


Praças, bares, restaurantes e parrillas garantem uma estada agradável e tranquila com o que a Argentina tem de sabidamente bom para oferecer. Mas o principal atrativo de Mendoza é estar no meio de vários vales de produção de vinho, como Luján de Cuyo, Valle de Uco e Maipú.

Antes de partir para os braços de Baco*, fizemos uma visita à Olivícola Laur, que além dos deliciosos azeites que produz, é uma das três detentoras de certificado de Modena (Itália) como produtora pelo método tradicional do Aceto balsâmico. Depois de aprender sobre o processo de produção de azeites e acetos, o visitante pode fazer uma degustação dos produtos antes de comprar.



Uma curiosidade sobre a razão do aceto se chamar balsâmico é porque antigamente o produto era relacionado à fertilidade e produzido em forma de bálsamo para uso feminino. Mesmo depois que se descobriu que a fertilidade estava ligada a outras ordens de fatores, o nome do produto permaneceu.

Para quem já fez visitas a vinícolas nos diversos países em que o vinho é produzido, as vinícolas ao redor de Mendoza oferecem alguns diferenciais. 

Na Chandon é oferecido um almoço com menu completo e harmonização de espumantes. Além da oportunidade de conhecer e degustar tipos diferentes de espumantes a par das mais acessíveis do mercado, o almoço oferecido é de qualidade excepcional, ao ponto de me levar às beiras da emoção. Certamente, uma das melhores refeições da vida (!!).










Dentre as vinícolas, resolvemos visitar a Carena Zapata, tida como a melhor da região e para a qual tem lista de espera para visitação. Este obstáculo foi superado através de uma agência de turismo local. A Catena Zapata é moderna e forte. Além de equipamentos e materiais inovadores, vê-se centenas de barricas de carvalho de primeiro uso. 



Nesta vinícola não se faz degustação, mas se "escolhe uma experiência", como degustação com música, etc. Nossa escolha foi Faça seu Próprio Vinho. Além das seis taças para experimentar dois vinhos brancos e quatro tintos, havia lápís e papel para anotações de impressões, um tubo de ensaio grande e uma outra taça vazia. Depois de experimentar os seis vinhos de casta pura, pudemos misturas quantos e quais vinhos quisemos no tubo de ensaio e degustamos nossa própria assemblage na última taça restante.  Apesar de alguns convivas jurarem que preferiram sua própria produção aos vinhos oferecidos (Rs), passei a dar mais valor ainda aos enólogos e ao seu sábio ofício. 




Como comecei dizendo, Mendoza é um ótimo lugar para estar, descansar e flanar, mas as experiências lá vividas - com ou sem o álcool -, de intensas e belas, nos tiram de nós mesmos e podemos retornar depois dessa ausência mais preenchidos e felizes.



* Baco, o deus do vinho.

terça-feira, 11 de maio de 2021

Fronteiras Fechadas

 08/12/2020


Fronteiras Fechadas


Desde que vi arder a Notre Dame, meu coração se partiu um pouco.  Depois trincou cada vez mais um pedaço ao ver Veneza,  Londres, Nova York, ou qualquer das cidades que amo esvaziadas, abaladas,  exauridas.

Neste momento agudo de pandemia, quando nos exasperamos com o confinamento ou com o tédio, o que me mais me incomoda - e deveria mesmo - é o constrangimento. 

As pessoas ficaram sem emprego,  sem renda,  sem comida ou casa.  Outras pessoas morreram ou perderam afetos e familiares. Para muitas pessoas a perda de referências não foi só cultural, mas invadiu as mais íntimas esferas da sua existência.

Para mim,  restou a empatia.  Quis a vida que o meu extrato social e a minha estabilidade funcional me garantissem o mesmo salário no final do mês,  todos os meses pandêmicos. Diante dos desafios gigantescos que a maior parte da população está enfrentando,  as minhas contribuições para movimentos de ajuda social são paliativos tendentes a preservar, mais que tudo, a  humanidade que existe em mim.

Como nós sairemos desse abalo nas  nossas referências (sociais e culturais) só podemos imaginar,  mas uma certeza já se avizinha,  a de que as fronteiras fechadas a serem cruzadas estão dentro de nós mesmos.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Aurora Boreal ou O que É Invisível aos Olhos 

A visibilidade da Aurora Boreal depende de três fatores indispensáveis:
- Céu claro. Como se trata de um fenômeno que ocorre a mais de cem quilômetros(!!) da superfície da terra, é preciso que não tenha - ou haja poucas e finas - nuvens para não turbar a visão do céu.
 - Escuro. O fenômeno, que acontece muito distante, é sutil e qualquer luminosidade pode diminuir ou impedir sua percepção.
 - Atividade Solar. O fenômeno consiste em partículas do sol, expelidas em virtude das suas explosões, que vem em direção da Terra, mas não atinge a superfície terrestre, pois são impedidas pela atmosfera. As partículas chegam em torno de todo o Globo terrestre, mas são atraídas para os polos morte e sul, em razão da sua polaridade magnética e, por isso, são visíveis nestas regiões.



Conhecer a Aurora Boreal é um desejo antigo, mas como as condições para realizá-lo são bem difíceis, sempre esteve guardado com os outros "desejos difíceis". Recentemente, recebi um convite de uma amiga, para visitarmos as capitais dos países escandinavos. Como eu já as tinha conhecido em oportunidades anteriores, achei que a ocasião era propícia para "ir mais além" e programamos uma estada maior na Noruega, para "caçar" a Aurora Boreal.



 Tromso foi a cidade do Norte da Noruega escolhida para a empreitada, pois fica dentro do Círculo Polar Ártico e reúne boas condições para a observação. Chegamos em março, o último dos meses com noite suficiente (depois vem a época do sol da meia noite, em que o sol não desaparece do horizonte), mas com temperaturas baixas mais toleráveis. Apesar disso, havia muita neve - e nevascas- e o clima trazia nuvens densas e uniformes por todo o céu.



As observações são feitas com empresas que levam os turistas para as montanhas fora da cidade e da sua luminosidade em ônibus aquecidos e com tecnologia para identificar os pontos mais propícios de visualização. Como ficaríamos três noites em Tromso, reservamos o passeio no primeiro dia disponível (o segundo), com a promessa da companhia de que se não víssemos as Northern Lights, teríamos 50% de desconto para uma segunda tentativa.



 Embarcamos com grande expectativa, viajamos horas até recantos bem escuros e distantes, permanecemos longos períodos ao ar livre resistindo ao intenso frio noturno, mas não foi possível visualizar a Aurora Boreal.



Nas horas que ficamos no alto daquelas montanhas, sob aquele manto de nuvens e com os pés enfiados na neve, decidi que não voltaria a tentar no dia seguinte. A razão é a de que a previsão era de que o tempo permaneceria inalterado. 

Nesta primeira tentativa, percebi, mais uma vez, que a riqueza da experiência tinha sido o caminho, o fazer acontecer. Chegar ao Círculo Polar Ártico e enfrentar as condições mais adversas para presenciar a Aurora Boreal foi uma das melhores aventuras que já tive. A Aurora estava lá, bem acima da minha cabeça. Eu apenas senti.

 O que é invisível aos olhos é sentido por uma outra parte do corpo.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Lá do alto


Parece que a empatia que temos com os lugares que visitamos tem um pouco a ver com o meio onde nós fomos criados. Respondendo a uma entrevista do meu filho para a escola, ele me perguntou do que eu sentia falta da minha terra natal. Vieram-me à mente as montanhas.

As montanhas tem algo mágico, que talvez nos remetam a sentimentos ancestrais. Em visita ao Peru, soube que os espanhóis tiveram muita dificuldade em catequizar os incas, porque eles adoravam, entre outras coisas, as montanhas. Algum sucesso de inculcar o cristianismo entre  os incas só foi alcançado quando começaram a apresentar imagens das santas com os mantos em forma dos cumes das montanhas a que estavam habituados.


O encantamento pelas terras altas começa a surgir quando nos alçamos a qualquer altitude que nos permite ver um pouco mais além do que nosso horizonte habitual. Deslumbramo-nos com a ampliação de domínios das nossas visões, com a temperatura do ar que respiramos e até mesmo com a escassez de ar em algumas situações.  Intrigas-nos as matas fechadas que remanescem no alto das serras, o gelo que se acumula naquelas mais altas ainda e as nuvens que nos impedem de ver até onde vão em certos momentos.

O auge do meu encantamento pelas montanhas se deu numa estada no Chile, quando fui apresentar a neve às crianças. Tomados pela excitação das brincadeiras, terminamos por ficar na Cordilheira além do horário mais prudente para quem deveria enfrentar todas aquelas curvas na estrada abaixo. 






Nesse momento, fomos surpreendidos pela beleza de algo que ainda não tinha me ocorrido: ver o pôr do sol lá de cima da Cordilheira.



quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

NY em passos

Todos sabem que Nova York é um lugar pra se conhecer a pé. O melhor programa é flanar pela cidade, descobrindo as surpresas que nos esperam depois de cada esquina. Na minha última estada, resolvi utilizar as minhas caminhadas de modo mais organizado, com objetivos específicos, possibilitando uma descoberta mais abrangente.

Passo I - Central Park

Chegando à cidade (midtown), resolvi ir até o meu lugar de hospedagem (upper west side) a pé, por dentro do Central Park, para ir apreciando o visual.







Só que era um total de cinquenta quadras! Agora eu posso dizer que conheço beeeeeem o Central Park!!!

Nos demais dias, somaram-se novas incursões ao parque - a pé ou de bicicleta - e o encantamento só fez crescer com um lugar que reúne paisagens e abrigos mágicos e acolhedores.



Passo II - Bronx

O primeiro walking tour que fiz era da programação do albergue. Todos os dias tem escrito no quadro da recepção os passeios que estão programados, para adesões, inclusive de quem não for hóspede.

✔ Passamos pela High Bridge, a mais alta ponte da cidade.  É só para pedestres e foi reaberta há dois anos. Faz parte do aqueduto - sistema de abastecimento da cidade.


✔ Passamos pelos principais pontos do bairro e nosso guia ia  falando dos filmes que haviam sido rodados lá.  Reconheci vários, inclusive o Tribunal de Law and Order, hohoho.


 
✔ Visitamos o Poe  Park, construído na casa onde o Edgar Allan Poe  morou pra tratar a tuberculose da sua mulher.  Era campo na época.


✔ A propósito, sentado nessa praça, inspirado pelas histórias do Poe, Bob Kane criou o personagem do Batman.

✔ Visitamos um outro parque com uma mansão história onde dormiu George Washington.


Depois do passeio, desci do metro na estação da Universidade Colúmbia. É um espetáculo!!


Este prédio da biblioteca não tem mais livros.  Agora é utilizado para fins administrativos.  A biblioteca atual é neste outro prédio.


 As visitações da biblioteca são somente nos finais de semana.

Passo III - Soho  e Roosevelt Island

Depois de passar a manhã batendo perna no SoHo, resolvi fazer um passeio indicado por uma amiga e de que eu nunca tinha ouvido falar.  É um teleférico de Manhattan para a Roosevelt Island,  que é uma ilha no meio do Hudson River.





A ilha tem toda estrutura, inclusive um campus universitário, e parece ter vida independente da ilha de Manhattan. Passear pelo waterfront nos dá uma perspectiva diferente do skyline da cidade.



 E na volta, ao invés de pegar o bondinho, fiz o trajeto de barco. Por U$ 2,00 é possível atravessar o Hudson por três vezes, para alcançar as paradas disponíveis. O final da tarde estava lindo e as paisagens valeram a pena!






Passo III - Downtown e Historic District

Fiz uma reserva num walking tour da Sanderman's, a mesma organização com a qual já tinha feito walking tours em Amsterdam e Edimburgo. O nome do tour era Free Tour of New York. Achei muito genérico.

Pois bem, os tours da Sandermans são sempre com gente muito preparada em termos de história. Zed, o nosso guia de então, não fugiu à regra e deu um show sobre a história da cidade e nos levou ao distrito histórico (downtown).





Não parecem paisagens de alguma cidade européia?  Pois bem, dentre os colonizadores, os holandeses tiveram muita influência.  Razão pela qual o antigo nome da cidade era Nova Amsterdam (!!)

Ele falou também das constantes evoluções vibrantes na cidade... Um exemplo disso é a estátua  do touro na Wall Street, que representa a força, braveza e poder (os chifres)...


... que um tempo depois ganhou o contraponto da menina valente, desafiando sem temores, em frente a ele.



 O nosso passeio passou também pelo forte e pelo Battery Park. O ponto culminante foi o fim do passeio, quando Zed nos contou sobre o ataque às torres gêmeas  e nos apresentou o memorial das vítimas e o novo complexo do World Trade Center.





Passo IV - Ainda no sul da ilha

Aproveitando que estava no sul da ilha, fui ainda ao Meatpacking District comer uma pizza de Alcachofra que me tinha sido indicada, no Artichoke Basille's Pizza.




 Depois fui conhecer o Chelsea Market.  É muito legal!  Comidas muito apetitosas,  artesanato, roupas diferentes... Um lugar descolado!



Do Chelsea Market, subi no Highline (parque feito na antiga linha de trem) e caminhei um pouco lá por cima.



 Como já estava no final da tarde, resolvi ir até o Battery Park curtir o por do sol!



Se ampliar bem a foto, dá pra ver a Estátua da Liberdade lá no fundo.

Passo V - Brooklyn

O dia foi do Walking Tour do Brooklyn. Partimos de frente à Prefeitura, e começamos o passeio pela Brooklyn Bridge...




 É a minha ponte preferida em NY, então eu exagero um pouco nas fotos!  A Brooklyn Bridge fica perto da Manhattan Bridge.




 Conhecemos algumas ruas típicas do bairro...





Vimos Manhattan da Promenade do Brooklyn...




E terminamos o passeio no DUMBO - Down Under Manhattan Bridge Overpass. 
Reparem que legal!  Neste ângulo, bem embaixo da Manhattan Bridge se encaixa o Empire State Building!!!



O passeio termina com essa foto da Brooklyn Bridge,vista do DUMBO.




 De lá segui para o Dekalb Market, no Brooklyn,  também por indicação: mercado gastronômico com ótimas opções de refeições. Almocei uma comida deliciosa e... fiz umas comprinhas! Kkk
Nessa Albee Square tem filiais da Macy's, Century 21 e Forever 21.

Nova York ainda tem muito mais a oferecer e eu estou certa de que ela está disposta a dar pra quem ANDAR atrás. Depois de cada passo adentro, a impressão que fica é a de ter se aproximado da alma da cidade...