quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Beleza nas Alturas

Parece que a empatia que temos com os lugares que visitamos tem um pouco a ver com o meio onde nós fomos criados. Respondendo a uma entrevista do meu filho para a escola, ele me perguntou do que eu sentia falta da minha terra natal. Vieram-me à mente as montanhas.

As montanhas tem algo mágico, que talvez nos remetam a sentimentos ancestrais. Em visita ao Peru, soube que os espanhóis tiveram muita dificuldade em catequizar os incas, porque eles adoravam, entre outras coisas, as montanhas. Algum sucesso de inculcar o cristianismo entre  eles só foi alcançado quando começaram a apresentar imagens das santas com os mantos em forma dos cumes a que estavam habituados.

O encantamento pelas terras altas começa a surgir quando nos alçamos a qualquer altitude que nos permite ver um pouco mais além do que nosso horizonte habitual. Deslumbramo-nos com a ampliação de domínios das nossas visões, com a temperatura do ar que respiramos e até mesmo com a escassez de ar em algumas situações.  Intrigas-nos as matas fechadas que remanescem no alto das serras, o gelo que se acumula naquelas mais altas ainda e as nuvens que nos impedem de ver até onde vão em certos momentos.

O auge do meu encantamento pelas montanhas se deu na minha última estada no Chile, quando fui apresentar a neve às crianças. Tomados pela excitação das brincadeiras, terminamos por ficar na Cordilheira além do horário mais prudente para quem deveria enfrentar todas aquelas curvas na estrada abaixo.



Nesse momento, fomos surpreendidos pela beleza de algo que ainda não tinha me ocorrido: ver o pôr do sol lá de cima da Cordilheira.

 







quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Outro Lado do Mundo - I

Tem experiências que são tão imensas ou grandiosas que se tornam difíceis de serem traduzidas. Assim tem sido com a minha viagem para a Austrália. Sem saber por onde começar, no caleidoscópio de experiências e lembranças, ainda não tinha conseguido trazer nada dessa viagem.

Pra quebrar a inércia ou viabilizar o intento, decidi criar uma série de posts falando dessa mega aventura no lugar mais distante onde estive.

Pra começar, a ideia de se viajar tantas horas, pra conhecer um país tão distante, não podia se concretizar sem uma boa companhia.




Depois, pra decidir como chegar lá, foi necessário um bocado de pesquisa pra escolher a forma menos desgastante. A escolha foi fazer o percurso no sentido oeste, via Santiago do Chile e Nova Zelândia, pela empresa aérea australiana Qantas.




Já tinha ouvido falar muito bem da Qantas e todos os elogios que lhe fizeram se mostraram inteiramente verdadeiros. Na medida do possível, eles fazem todo o possível pra fazer uma viagem tão longa ser o mais agradável possível.

Definida a chegada por Sydney, era necessário escolher os destinos num país de dimensões continentais. Nossos objetivos eram conhecer Sydney, a Rainforest, a Grande Barreira de Corais e estar em Melbourne durante o Aberto da Austrália de Tênis. Decidimos, então ficar na Costa Leste da Austrália.




A primeira descoberta da viagem foi que existe uma tal de "linha do dia" ou "linha internacional de mudança de data", que passa no meio do oceano pacífico. Quando se ultrapassa essa linha, avança-se para o dia seguinte. O prejuízo foi somente o de uma diária de hotel.




Foi assim que, depois de viajar dezessete horas de Santiago para Sydney, no sentido oeste, ou seja, quando se viaja contra o sentido horário, chegamos a Sydney no dia seguinte ao que tínhamos imaginado. Ao cruzar a linha do dia para oeste, soma-se 24 horas e, ao passar para Leste, subtrai-se um dia.

A primeira semana da viagem foi destinada para Sydney, que não é a capital da Austrália. A capital é Camberra, mas Sydney permanece sendo o local mais conhecido da Austrália.

Sydney é uma cidade tão agradável e bela, que até a pessoa mais avessa a fotografias não se cansa de registrar seus encantos. Imagine então as que já são bem chegadas num click!!








A Opera House e a Sydney Harbour Bridge, dois dos monumentos mais visitados da cidade, ficam um de frente ao outro e é difícil decidir qual o ângulo que mais os favorece.





A ponte ainda tem um outro atrativo turístico, que é escalar o topo da sua alta estrutura metálica.




Os vários parques são agradáveis vias de deslocamento pela cidade...




...agradáveis lugares para lanches e almoços...






 


...e lugares perfeitos pra fazer o exercício  necessário durante a viagem.





O sentimento de estar em Sydney é o de total encantamento. Cada dia, uma descoberta nova... ou a oportunidade de voltar aos lugares que imediatamente se tornam queridos!

Darling Harbour

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Palavras sussurradas

No último dia 30 de maio, encerrou-se a exposição “Múltiplo Leminsky”, que esteve, por dois meses, na Torre Malakoff. Durante esse período, estive lá algumas vezes, curtindo a atmosfera da voz, das fotos, da obra desse poeta, cuja obra eu muito admiro.



O que chamou minha atenção, desde a minha primeira visita, foram os livros da biblioteca do Paulo. Ele tinha inúmeros dicionários, dos mais variados idiomas. 


Além das línguas mais usuais e conhecidas, havia também alguns bastante peculiares, como “Dicionário Kechwa-Castellano”, “Vocabulario da lengua Guarani”, “Gramatica Grega” e “Curso Primario das Linguas Nipo-Brasileiras”.





Num primeiro momento, esse caleidoscópio linguístico me fez pensar em como essa gama de possibilidades linguísticas deve ter propiciado viagens fabulosas. Na revista UP, de maio/2014, um artigo de Gonçalo M. Tavares, me fez pensar nesse aspecto da linguística.

“’Se eu soubesse inglês não era eu, era outra pessoa’, escreveu Alberto Caeiro.
Quando se está num país em que os habitantes falam uma língua ininteligível, sente-se por completo como verdadeira esta frase. Se queres mudar de vida, aprende outra língua e outra e outra. Porque numa língua diferente – e para mais quando é muito afastada da lógica da nossa língua – obriga a uma posição e a uma movimentação do corpo completamente diferentes. Aprender uma língua é mudar de corpo. Não é apenas mudar de hábitos sonoros e dos micromúsculos que participam da fala, é mudar dos pés à cabeça. Aprender uma nova língua é mudar de país sem mudar de país. É uma mudança de solo mental.
Ir à China sem sair do sítio – aprender chinês.”

Diante de tal variedade de interesses, ponderei que, na verdade, a paixão de Paulo deveria ser pela palavra. A palavra em qualquer língua (aos 22 anos já falava 10 línguas). A palavra e seu(s) significado(s). Daí me lembrei que os poetas são de tal forma íntimos das palavras, que as palavras lhes sussurram poemas. 



Pelo menos é isso que contam na Irlanda...

Como você provavelmente sabe, ninguém pode escrever um poema. Não existe o ato de escrever um poema. Não é assim que eles são feitos. Lá podem estar o papel, a caneta e a tinta, mas você tem que esperar o poema chegar.

As pessoas que nós chamamos poetas, os verdadeiros poetas, eles são ouvintes muito atentos, que reconhecem quando um poema está prestes a despencar. Daí eles copiam o que o poema está lhes dizendo nas suas cabeças.

A verdade sobre os poetas é que eles nunca têm que esperar. Assim como alguém que gosta muito de frutas sempre encontra alguém que lhe ofereça uma pela rua, tão logo um poeta sinta que um poema está flutuando pelas redondezas, ele o sente fluindo pela sua cabeça, escorregando pelos seus braços até os dedos e saindo para o papel em letras negras.

E poemas são como anjos. Eles nos visitam frequentemente, mas temos que esperar por eles e acreditar neles, para receber seus presentes.

A Irlanda teve muitos grandes poetas, porque é um país tranquilo, com vastos campos vazios e ruas silenciosas, onde é muito fácil ouvir um poema quando ele está chegando.

Mas como é que os poemas surgiram? O início de tudo foi tipicamente irlandês. Isso começou com um marido, sua esposa estrangeira e uma demanda judicial. 

Mas essa é uma outra história, que eu contarei numa outra oportunidade...


terça-feira, 8 de abril de 2014

Vinícolas de Portugal



A revista Tam Nas Nuvens de maio do ano passado (2013) trouxe  uma reportagem com sugestão de quatro vinícolas para serem visitadas no interior de Portugal. Como estávamos de Viagem marcada para Portugal e Inglaterra em julho, decidimos incluir algumas dessas vinícolas no nosso roteiro. Escolhemos, pela localização geográfica, a Quinta da Aveleda e a Quinta do Monte D'Oiro.

A Quinta da Aveleda fica localizada em Penafiel, uma pequena cidade a 39 km de carro da cidade do Porto. O melhor hotel da cidadezinha é o Penafiel Park Hotel & Spa. Já antes de irmos, descobri que esse hotel oferece um pacote que incluía drink de boas vindas, o voucher para visitar a Quinta da Aveleda, um jantar no hotel e o uso gratuito do Spa durante a hospedagem.



Esses mimos fizeram da estada em Penafiel um período muito agradável e reconfortante.

Conforme noticiava a revista, a Aveleda se destaca não só pela fabricação dos vinhos verdes, mas pelo deslumbrante jardim botânico que as sucessivas gerações da família foram cultivando com muito esmero.

Já na entrada, encontramos as paisagens que a revista descrevia no outono, com as folhagens do verão.



Andar pela propriedade é ir imergindo numa flora variada e deslumbrante...



... que nos remete a contos de fada e sonhos de infância.



Cada cantinho do imenso jardim é cuidadosamente preservado e até nos fez esquecer que estávamos lá para conhecer os vinhos...



Como a propriedade, além de muito grande, é muito  ativa, na degustação são servidos, além  dos vinhos verdes, os queijos produzidos na própria Quinta.

O vinho verde é uma "denominação de origem controlada" do vinho produzido exclusivamente na região noroeste de Portugal. É um vinho com moderado teor alcóolico e, portanto, menos calórico. Não é um vinho para ser guardado, mas consumido em até dois anos.

A visita é magnífica e, muitos Alvarinhos (a uva "mais carismática" da região do vinho verde) depois,  saí de lá com um imenso prazer de ter passado aquela tarde de verão na Quinta da Aveleda, a vinícola que produz, dentre outros,  o muito conhecido Casal Garcia.




A outra vinícola escolhida para visitarmos foi a Quinta do Monte D'Oiro, que fica no vilarejo de Freixial de Cima, a 59 km de Lisboa.


A revista dizia que a degustação na Quinta do Monte D'Oiro era feita ao som da música de Paganini e, conforme a complexidade do vinho ia aumentando, a música do Paganini ia ganhando complexidade através do número de instrumentos utilizados. Seduzidas pela imagem mental criada pela revista, agendamos uma visita à vinícola.



Nós não fizemos a degustação do Paganini, Na verdade, não fizemos nenhuma degustação, pois quando chegamos, a vinícola estava em frenético funcionamento de produção. Entretanto, de forma muito atenciosa, a enóloga Norma deixou os afazeres e gastou uma hora conosco entre os vinhedos, explicando-nos toda a história e a sutileza da produção dos vinhos produzidos na Quinta.

A Quinta do Monte D'Oiro fez a opção por produzir vinho de castas de uvas francesas. Portanto, um laborioso desafio foi adaptar as castas trazidas da França para o terroir português. Isso, entretanto, possibilitou que os vinhos produzidos ali ganhassem um diferencial dos outros tantos produzidos nas demais vinícolas portuguesas.

Da Quinta do Monte D'Oiro, partimos não só com a alma repleta de informações e curiosidade originada pela atenciosa recepção que nos foi dada, mas com a mala carregada de algumas garrafas dos seus vinhos, para experimentarmos durante a viagem.

Os vinhos são excelentes, mas dos que experimentamos, o nosso preferido foi o Lybra, que sorvido em Londres, encheu-nos dos sabores franceses, produzidos em Portugal...



...o que nos fez ver que, em se tratando de vinho, mais que a nacionalidade, o terroir, ou a casta, o que nos preenche são os goles e a atmosfera criada em torno dos confrades pelo seu sabor e efeito embriagante.