Esse texto é da Melissa de Andrade, na Mon Quartier de setembro/2010, mas bem que podia ser meu, pois concordo com absolutamente tudo nele:
"Sabe aquela agonia de ir além, de sair do mundinho de sempre, vivenciar outros momentos, respirar outras vizinhanças? Permita-se. Viajar é a melhor coisa que existe. Viajar em livros, em filmes, na internet. Viajar pra cidade do lado, pra cidade lá longe, pra fora do país. De todo jeito é bom.
E que delícia se deixar flanar, perder-se em ruelas sem fim, achar peculiaridades que escaparam aos demais, guardar um pedacinho das terra nova pra vida toda.Ou até quando importar. Porque não tem suvenir melhor do que as sensações que nos arrebataram e que permanecem vida afora, às vezes sem mudar muito, às vezes mudando bastante, às vezes até se esvaindo no tempo, tem nada não.
E que maravilha sentir um" momento uau", aquele em que o espanto de uma novidade garante um segundo de respiração suspensa, estupefação plena, os sentidos aguçados, visão, olfato, paladar. A certeza de que valeu a pena fazer todos os sacrifícios para estar ali. Experimentar uma conversa com sotaque novo, um jeito diferente de fazer as coisas, uma outra maneira de servir, de misturar os alimentos, de apresentar os lugares. De viver.
Tem gente que viaja sem nunca sair de casa. Tem gente que vive pra viajar, conta os dias pra próxima partida, numa agonia que parece não passar. Tem gente que gosta mesmo é de viajar numa sala de cinema. E tem gente que não dispensa a própria casa para viajar por páginas digitais ou analógicas.
Não importa. O que importa é que a viagem não para em si. Está presente na volta à rotina. Talvez principalmente na volta à rotina. É quando a casa ganha um outro significado, a rua da gente parece um pouco diferente, o dia a dia vai ser vivido de outro jeito. Numa viagem bem vivida, quem parte não é o mesmo que volta. O olhar muda. A perspectiva muda. É bom tirar proveito disso.
E aí o tempo vai passando e chega uma hora que pode vir a sensação de que tudo virou rotina de novo. Que tudo ficou igual de novo. Que a cabeça da gente só está nos afazeres, nos problemas, na rotina. Aí sabe o quê? Aí talvez seja a hora de planejar uma nova viagem."