sábado, 3 de março de 2012

A opção de não ter opção

Além das viagens, eu tenho uma outra grande paixão, que é cozinhar. Não digo gastronomia, porque esta palavra induz a uma sofisticação que não é fundamental. O que me encanta é descobrir sabores e preparar alimentos da forma mais prazerosa possível.

Esse blog não é sobre culinária, mas se  alguém quiser ler sobre alimentos e receitas de uma forma encantadora e sensível, visite o Chucrute com Salsicha.

Entretanto, uma provocação fez-me ter vontade de contar aqui um episódio "gastronômico" que me aconteceu e que foi, no mínimo,  muito interessante.

Num dos livros que eu estou lendo, deparei-me com a seguinte frase, que teria sido dita por um francês: "Mas é claro que todo o mundo sabe que os ingleses matam seus cordeiros duas vezes: a primeira no abate, a segunda ao prepará-lo".

Hohoho. Não vou me posicionar sobre o mérito da culinária inglesa, nem tampouco sobre o direito dos franceses de criticá-la. O fato é que um sorriso veio-me aos lábios e fiquei pensando em como cada cultura é orgulhosa de sua própria culinária.

Lembrei-me, então, de que eu e meu irmão estávamos em Genebra, Suiça, com uma baita fome. Quando entramos num ônibus (esse detalhe é importante, para realçar a origem da indicação), perguntei ao motorista se ele conhecia algum restaurante bom por ali. Ele perguntou se queríamos massa ou carne. Como meu irmão animou-se mais com a menção da palavra carne, a escolha foi essa.

Quando chegamos numa esquina e o semáforo fechou, ele abriu a porta e nos disse para descer e ir para o restaurante para o qual apontava. Agredecemos e assim fizemos.

Sentamos numa das mesas da calçada e, depois de algum tempo, pedimos a uma garçonete portuguesa o cardápio.



Qual não foi nossa surpresa, quando ela nos disse que "não havia". (!!!) Como assim? (???) Foi então que ela nos explicou que aquele restaurante só servia um prato. A escolha dos fregueses resume-se a se sentar ou não!

Atônitos, decidimos permanecer e aderir ao menu da casa:

As opções são somente de bebidas e sobremesas.

Isso mesmo: o menu era contra-filé, com o famoso molho da casa, batatas fritas e salada. Dada a singeleza da refeição, nem sequer perguntamos o preço e partimos para os aperitivos.

A salada era de.li.ci.o.sa. A carne e as batatas eram servidas em duas partes. Quando se está quase acabando a pimeira metade da porção, eles trazem a outra metade. Certamente, para que não fique frio. E quanto ao "fameuse sauce"?? Era inacreditavelmente bom. Passei horas tentando identificar os ingredientes, até que desisti e apreciei o momento.




Quando pedimos a conta, descobrimos que aquela refeição seria a extavagância da viagem! Afinal de contas, estávamos na Suiça e os preços lá não são de brincadeira.

Dali a pouco, o ônibus que tinha nos deixado ali passou de novo e o motorista acenou pra nós, perguntando se tínhamos gostado. Sorrimos e gesticulamos que sim. Agradecemos.

Portanto, numa viagem, perguntas feitas a pessoas simples podem - sim - gerar indicações finas e dispendiosas. Afinal, devemos estar sempre preparados pra tudo, né?

A rede dos Restaurantes Le Relais de L'Entrecôte tem origem francesa, com quatro estabelecimentos em Paris e outros no interior.  Em São Paulo, a moda pegou e tem dois restaurantes inspirados no conceito. O L'Entrecôte de Paris e o L' Entrecôte de Ma Tante. A comparação entre ambos, pode ser verificada aqui.

Pesquisando na internet, descobri que tem quem defenda ter descoberto o segredo do molho.  Se alguém quiser tentar, segue a receita:

"Le Entrecôte du Leo

File Mignon 14 unidades
Creme de Leite Fresco 500 ml
Manteiga sem Sal
Mostarda Dijon 2 colhetes de sopa cheias
Fígado de frango 100 gr
Tomilho Fresco uma xícara de chá cheia
Tomilho Seco 1 colher de sopa
Azeite a gosto
Pimenta do Reino a gosto
Cachaça uma dose

Molho:

1) Temperar os fígados com sal pimenta do reino e tomilho seco.
2) Em uma frigideira fritar/grelhar os fígados em manteiga e azeite até ficarem alourados. Adicionar uma dose de cachaça para soltar o fundo. Após evaporar o álcool, processar o fígado e seus sucos até formarem um purê.
3) Em outra frigideira acrescentar manteiga, mostarda, creme de leite e o tomilho fresco, colocar em fogo médio e reduzir a mistura em ¼ do volume original.
4) Adicionar o purê de fígado e misturar lentamente até a homogeneização do molho. Para acertar a viscosidade do molho acrescente manteiga em cubos e água.

Batata:

1) Descascar e cortar em palitos finos. Importante: Não colocar as batatas na água.
2) Fritar em óleo de canola ou girassol em quantidade abundante. Inciar a fritura em fogo baixo e da metade do tempo em diante passar para fogo alto.

Carne:

1) Cortar os bifes na espessura de um dedo ou maior.
2) Seca-los muito bem com papel toalha
3) Temperar com sal fino e pimenta do reino
4) Grelhar no carvão ou em frigideira antiaderente com pouco óleo. Cuidado com a quantidade de peças na frigideira pois se for colocado muitas a carne cozinha ao invés de fritar/grelhar."

2 comentários:

  1. Potesgrila, a esta hora da madrugada, com uma fome do cão, fui ler este post... a fome ficou estratosférica! Carambola.

    Uma dúvida: em que livro os franceses xingaram os ingleses? Ou melhor, que livro vc está lendo? Porque francês desaforar inglês é comum em várias histórias, rsrs. Bjin!

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  2. Hohoho, indeed! O que eu estou lendo é "Um ano na Provence", Peter Mayle. Achei o comentário a respeito do cordeiro muito espirituoso. :-)

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