Com o passar dos anos, uma mudança insinua-se no estilo de viagem do viajante. Penso não ser um evento isolado no meu estado de espírito, já que percebi o movimento em viajantes com quem cruzei pelo caminho.
Menos do que um temor, assalta-me vez por outra, uma percepção assustada da quebra do padrão de comportamento e até de sentimento em torno do ir e do ficar e do como e quando fazer isso.
As minhas questões vem sendo maturadas através da ficção e são os os personagens das maravilhosas estórias que tem me buscado (sim, os livros nos procuram) que têm me auxiliado a compreender e aceitar os processos aos quais somos submetidos.
Uma história sincera e leal tem o poder de nos afetar mais ampla e profundamente do que vários tratados a respeito da aflição que nos atinge. É como minha amiga e irmã Adriana escreveu - a quem peço licença para transcrever um trechinho do seu texto com que me identifiquei completamente:
"Fiction is a way to see the world and to be in it. Understand that life is much more than facts. How people conect and find themselves in amazing characters and stories that can bring so much meaning to what we see and live".
A estória da qual acabo de emergir, lindamente escrita por Angela Becerra e a mim trazida pela minha querida amiga Inox, trouxe-me um reconhecimento e identificação que me ajudaram a entender um pouco mais a transformação que vinha percebendo em minha própria vida.
"Às vezes nos afastamos para tentar nos encontrar. Quando ficamos mais velhos nos perdemos. Não sabemos o que fazer com tanta sabedoria. Seria preferível que nos esvaziassem e nos deixassem nus diante das intempéries da ignorância. O problema da idade é que, de repente, nada mais nos surpreende, e a vida está na surpresa."
Ao invés de satisfazer os desejos surgidos com a urgência da sua intensidade, começou a surgir espaço para deixar o prazer da satisfação para um momento mais oportuno...
Todos os planos previa e cuidadosamente tecidos passaram a ser preteridos por anseios mais imediatos e corriqueiros ou pela falta de anseios de qualquer espécie...
Ficar, ao invés de ir como planejado... Voltar... Regressar... Buscar o que ficou pra trás...
Com a passagem dos anos e a partida da juventude, podemos perceber que nós, humanos expostos e sofridos pela ação do tempo, temos um poder imenso. Justamente o que falta ao tempo. Podemos parar. Podemos regressar. E, principalmente, podemos decidir quando seguir em frente.
Procurei, no site do Amazon, o livro de Angela Becerra. E me chamou a atenção que a arte aparece também como protagonista, ao que parece. Eu adoro quando é assim. Quando a arte, a ficção, as histórias movem a narrativa. Ian McEwan, autor de Reparação, sempre traz alguma forma de arte e ficção como fundamental aos personagens, e não só como gosto próprio, mas como essencial à vida e como nos colocamos nela. Em Sábado, a leitura em voz alta de uma poesia deflagra um sequestro... Em Reparação mesmo, uma história de ficção cria um outro mundo em que o dano feito foi superado... Amsterdam traz a música como o universo em que os personagens transitam, como uma salvação e loucura at the same time. Eu acho lindo, forte e verdadeiro que a arte e a ficção sejam esse modo de nos colocarmos na vida. De nos relacionarmos e nos identificarmos... Quantas histórias, por exemplo, já perpassaram a nossa convivência?
ResponderExcluirCarinho grande, Dri.
Dri, a pintura termina sendo quase um personagem a mais! Numa nota final, a autora faz uma referência a um pintor conhecido (que eu não vou mencionar, pra não estragar a surpresa)que é um mimo!
ResponderExcluirA Arte é o maior vetor da beleza, né? E a beleza, como diz nosso amigo Djanko... vai salvar o mundo!!!
Kakal, kakal,
ResponderExcluir"Às vezes nos afastamos para tentar nos encontrar. Quando ficamos mais velhos nos perdemos. Não sabemos o que fazer com tanta sabedoria. Seria preferível que nos esvaziassem e nos deixassem nus diante das intempéries da ignorância. O problema da idade é que, de repente, nada mais nos surpreende, e a vida está na surpresa."
Uau!!!!!
Beijo
Bia