sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Desejos

Na maioria das vezes, é difícil dizer o que vem primeiro e acende a chama do desejo.

Percebe-se um interesse até então inexistente e, uma vez reconhecido, ele passa a crescer. Em alguns casos, a chama arde com tanta intensidade que o desejo evolui para uma necessidade premente. Noutros, a chama vai se esvaindo lentamente até que o desejo se faça lembrar por apenas uma fluida fumaça no ambiente da alma.

 
Em alguns casos, no entanto, a origem do desejo é muito clara. Foi o que aconteceu quando ganhei da minha amiga Dri, o livro A Dama e o Unicórnio.

 "Paris, 1490. O nobre Jean Le Viste contrata o carismático e talentoso, porém ambicioso, miniaturista Nicolas des Innocents para desenhar seis tapeçarias comemorativas de sua ascensão na Corte. Ao conseguir convencer seu patrono a trocar o tema original da obra - a representação da sangrenta Batalha de Nancy - por um conjunto de imagens representando os cinco sentidos, Nicolas dá início a um projeto grandioso que poderá levar à glória ou à decadência. Enquanto isso, o artista encanta-se pela belíssima filha de La Viste e passa a conhecer intimamente todos os padrões e texturas de um mundo de tentações e frágeis relações. "




O livro é uma delícia e Tracy Chevalier cria uma ficção de como teriam sido produzidas as monumentais tecelagens que compõem o conjunto homônimo de seis tapeçarias, que é considerado como uma das grandes obras de arte medieval. Elas são expostas no Museu de Arte Medieval, o Museu de Cluny, em Paris.

Daí surgiu o meu desejo de ir ao Museu de Cluny ver, pessoalmente, as tapeçarias sobre as quais, no livro, apreendemos os mais minuciosos detalhes: o suposto significado das figuras, as técnicas de tecelagem, os estilos e utilização das cores.


Estar diante delas supera quaisquer expectativas. Elas são enormes, magnificentes, intrincadas, deslumbrantes.


Cada uma das cinco tapeçarias menores representa um dos sentidos, que podem ser descobertos por detalhes de cada uma das suas intrincadas tramas.



            
        

 No meio delas, está a sexta e maior tapeçaria, que, segundo elucubrações, representaria o amor.

Na tenda acima dos personagens, está escrito "Mon Seul Desir" (meu único desejo).

Ali, na sala 13 do Museu de Cluny, pensei ter um desejo meu realizado.  Mas, ao me ver na penunbra daquela sala redonda, cercada da intensidade daquelas tapeçarias, diante daquela frase hipnotizante, ocorreu-me que desejos não se satisfazem, pois são chamas, mas somente arrefecem, até que a brisa do destino as sopre novamente... 

Um comentário:

  1. Hehehe, quando te dei o livro era justamente para suscitar o desejo... O meu ainda não foi satisfeito, mas a sua viagem e o relato aqui no Batendo Perna conseguiram sossegá-lo um pouco!

    O legal da Tracy Chevalier é dar uma narrativa ficcional à obra de arte, como ela fez também com Moça com Brinco de Pérola. Confere tanta vida, tantos sentidos e, claro, desejos! Eu acho muito legal isso.

    Carinho, Sis! Drix.

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